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domingo, 11 de maio de 2008

Faculdade de Medicina do Ceará agora é sexagenária




 

    Neste ano da graça de 2008, a primeira faculdade de medicina do Ceará completa sessenta anos de existência. Ela iniciou suas atividades em 12 de maio de 1948, fruto da iniciativa de um grupo de jovens médicos empreendedores capitaneados pelo Dr. Jurandir Picanço, que se tornou patriarca de uma imensa e tradicional família de médicos cearenses. Não me refiro apenas à Família Picanço, mas também a todos os médicos formados no Estado, que, direta ou indiretamente, acabaram tornando-se seus discípulos, inclusive eu.

    A escola funcionou, em princípio, como uma instituição privada, porém gratuita, em um prédio amarelo, que hoje é o anexo do Teatro José de Alencar. Em 1954, a faculdade foi anexada à recém-criada Universidade Federal do Ceará, tornando-se uma instituição pública. Alguns anos depois, foi transferida para o Bairro Rodolfo Teófilo, vulgo Porangabussu (não muito longe do CT do Ceará Sporting Clube), onde foram construídas as instalações coadjuvantes para aprendizado médico e atenção à saúde da comunidade que nós conhecemos como o Hospital das Clínicas e a Maternidade Escola. Em seguida, vieram juntar-se à medicina, nos mangueirais do Porangabussu, os cursos de farmácia, odontologia e enfermagem. Durante algum tempo, os quatro cursos trabalharam felizes e juntos sob a sigla de CCS (Centro de Ciências da Saúde). Não sei exatamente quando ocorreu esta fusão e quando a medicina decidiu se separar e se tornar uma faculdade sozinha, nem sei explicar porque isto aconteceu. O fato é que a Faculdade de Medicina de Fortaleza monopolizava a formação médica no Ceará, sendo tratada como filha única, até o começo deste milênio, quando ela ganhou duas irmãs, uma em Sobral e outra em Barbalha, ficando as três irmãs sob a tutela da UFC, e surgiram outras faculdades públicas e particulares. Mas a Faculdade de Medicina da UFC em Fortaleza continua sendo a "pedra fundamental" da educação médica cearense. Foi dela que saiu a maioria dos professores das outras faculdades.

    Em tudo que falei até agora, não há novidade alguma, a não ser no fato da separação dos quatro cursos em FM e FFOE. Novidade mesmo eu vou contar agora.

O que mais me chamou a atenção nessas décadas de história da faculdade, da qual eu também faço parte porque meu curso avançado em terras sobralenses é englobado por ela, foi um causo que me contaram no colégio, quando eu estava no 3º ano do Ensino Médio. Pois bem, há dez anos, quando a faculdade completou cinqüenta anos, seu então diretor, Dr. Elias Salomão, proferiu uma palestra em nosso colégio, como parte de um ciclo de palestras envolvendo profissionais de diversas áreas, para ajudar a nós que iríamos prestar vestibular no fim do ano a escolhermos nossas carreiras. Lembro-me que o apresentaram, descrevendo todo seu currículo, e a platéia exclamou admiração. Em seguida, a primeira coisa que ele falou foi mais ou menos o seguinte: "E tudo isso para ganhar um pouco mais de mil reais por mês. Se eu morrer, não dá nem pro caixão." Ele foi lá basicamente para falar para aqueles que tivessem interesse em se aventurar naquela praia. Eu ainda não sabia direito o que eu queria da vida, mas fui lá conferir, mesmo assim. Ele basicamente expôs a situação da medicina urbi et orbi, ou seja, na cidade e no mundo. Descreveu a vida do médico e a situação da faculdade, enfim, deu-nos um retrato nu e cru do que nos esperava. Mesmo assim, muitos não desistiriam. Eu desisti, depois voltei atrás, e eis me aqui. Na verdade, ele nem foi tão pessimista como você deve estar pensando. Acho que as coisas negativas que ele falou sobre a profissão, talvez se devessem mais à sua vida pessoal. Ele disse que mal viu seus filhos crescerem. Em suma, disse que um trabalho árduo nos esperava, começando por uma carga horária de quarenta horas de aula por semana (o que equivale a aulas de segunda à sexta, nos dois turnos, acho que já a partir do primeiro semestre, mas isso vem sendo corrigido desde 2001), depois teríamos muito serviço pela frente, sendo relativamente mal-recompensados e com certo comprometimento da qualidade de vida. Ele não era e tampouco descreveu o modelo ideal de médico que tínhamos em mente até então. Mas a palestra não foi pessimista. Ao contrário, foi motivadora e engraçada. Ele contou que, aos doze anos, leu em um jornal uma notícia sobre a abertura de uma faculdade de medicina em Fortaleza. Mais uma vez, o público demonstrou admiração, como se dissesse "É o novo!", e ele disse que não tinha vergonha de estar com 62 anos de idade, naquele momento da palestra. Contou como eram os vestibulares na sua época. Disse que as provas eram orais, se prolongavam até de madrugada, pois os candidatos eram sabatinados um por um e na frente de todo mundo. Se o sujeito errasse uma pergunta, ficava mal falado. Por isso que, no primeiro vestibular, por ocasião de sua fundação, inscreveram-se 80 candidatos para 60 vagas. Apenas 10 foram aprovados. O mais engraçado da palestra foi quando mandaram-lhe uma pergunta por escrito, sobre a situação dos médicos que quisessem se especializar em psiquiatria. Ele respondeu: "Vai melhorar, porque está todo mundo ficando louco". Engraçado também, quando perguntaram-lhe o por quê de os estudantes de medicina serem os universitários mais bonitos. Uma representante do curso de enfermagem da UNIFOR, que também estava palestrando sobre sua área, naquela ocasião, respondeu a pergunta. Só me lembro que ela disse que não eram somente os estudantes de medicina que eram bonitos. Só me lembro que, a respeito disso, Dr. Elias não comentou sobre os homens, mas disse que as acadêmicas de medicina são meio mutantes, porque ficam feias em dias de provas, mas bem cuidadas em outros dias. Ainda não parei para reparar se minhas coleguinhas também são mutantes assim. Bem, é só isso que me lembro a respeito daquela palestra. Só enrolei, contando o episódio porque achei que gostariam de saber. Agora, vamos ao causo que prometi.

O causo foi contado por um professor de química do meu colégio, que era aluno do Porangabussú naquele mesmo ano de 1998. Sua irmã também estava no meio da platéia, na mesma situação que eu, ou melhor, estava bem melhor que eu, porque, além de ser uma das melhores alunas do colégio, acredito que estivesse mais segura, determinada, preparada, sabendo o que queria da vida, e ainda tinha um exemplo no qual se espelhar. Bem, voltando ao causo, até o vestibular anterior, Concurso Vestibular UFC 1998, que foi realizado em dezembro de 1997 (atenção a esses detalhes das datas), o número de vagas oferecidas para o curso de medicina era, preste atenção, de 140. Por ocasião do cinqüentenário da faculdade, em 1998, foram acrescidas mais 10 vagas. Portanto, para o vestibular seguinte, Concurso Vestibular UFC 1999, a ser realizado em dezembro de 1998, seriam oferecidas 150 vagas. Pois bem, os dez primeiros classificáveis para o curso de medicina no Concurso Vestibular UFC 1998, ou seja, os que ficaram nas posições de 141º a 150º, entraram na Justiça, acreditando ter direito àquelas dez vagas adicionadas depois do certame. O argumento usado foi que eles prestaram vestibular para o ano de 1998 e o decreto que criou as novas vagas era do ano de 1998. Com isso, eles ganharam a causa em primeira instância. Obviamente, a universidade recorreu, embora estivesse fragilizada, por causa da greve que ela sofreu, naquele ano. O final desta história, eu o desconheço. Quem souber, me conte, por favor.

    Nesta semana, de 12 a 16 de maio, programação especial de comemoração do aniversário da faculdade. Acho que em Sobral e Barbalha não haverá solenidades. Se haverá, até agora não me avisaram. Seria até bom. Quem sabe minhas provas fossem adiadas. De qualquer maneira, confira outras postagens do blog alusivas às comemorações:

http://conscienciaacademica.blogspot.com/2008/05/convite-aos-alunos-da-faculdade-de.html

http://conscienciaacademica.blogspot.com/2008/05/informaes-para-o-povo-da-medicina-que.html

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http://www.antonioviana.com.br/novo.php?sec=materia&id=22080

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http://www.ufc.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=6820&Itemid=90


 

Um comentário:

Anônimo disse...

Legal poderia colocar o linjk do blog na comunidade dos alunos de medicina da ufc no orkut >-